As chamadas “Reservas Genéticas” de truta comum foram criadas nas cabeceiras de alguns rios mediterrânicos dos Pirinéus catalães nos finais do século XX, com o propósito de proteger a diversidade genética nativa que conservada por algumas populações. A nomeação de áreas refúgio realizou-se com base na existência de dados genéticos que demonstravam a ausência de impacto genético dos repovoamentos com trutas não-nativas de origem Atlântica efectuadas durante muitos anos. Desde então, esse tipo de repovoamento foi completamente proibido nos refúgios genéticos, que por sua vez podiam manter as actividades de pesca pre-existentes. Com o objectivo de avaliar a contribuição destas reservas para a conservação dos patrimónios genéticos nativos da truta, desde a sua criação e dentro de cada refúgio, foram monitorizadas uma série de localidades, tendo sido actualizada a informação genética a cada 2-3 gerações.

O trabalho apresentado no simpósio “Advances in the Population Ecology of Stream Salmonids” e publicado agora na revista científica “Ecology of Freshwater Fish” actualiza a informação genética em três destes refúgios para o ano de 2014 (rios Ter, Freser y Flamisell). Trabalhos genéticos prévios identificaram populações introgredidas por genes atlânticos em alguns refúgios, e sugeriram contradições entre a intenção explícita dos refúgios e a composição genética observada. Com base nesta observação, examinaram-se também as possíveis divergencias genéticas entre as distintas populações dentro dos refúgios. Para isso utilizou-se a informação genotípica em cinco loci microsatélites combinada com o locus da lactato deshidrogenase C (LDH-C*).

Os resultados deste trabalho indicam flutuações temporais pequenas mas significativas nas frequências alélicas destes loci em algunas populações. As análises de estrutura populacional revelam a presença de unidades nativas diferenciadas dentro dos refúgios. Algumas localidades dentro dos refúgio do rio Freser mostraram um índice elevado de exemplares não nativos (superior a 20%). Com base nesta última observação, é importante discutir a necessidade de levar a cabo medidas locais adicionais (repopulação com truta nativa, erradicação selectiva de exemplares, reforço de pesqueiros com exemplares estéreis) para alcançar o o objectivo de conservação dos recursos genéticos nativos nos refúgios genéticos.

Para mais informação:

Araguas, R. M., Vera, M., Aparicio, E., Sanz, N., Fernández-Cebrián, R., Marchante, C. and García-Marín, J. L. (2017), Current status of the brown trout (Salmo trutta) populations within eastern Pyrenees genetic refuges. Ecol Freshw Fish, 26: 120–132. doi:10.1111/eff.12260